quarta-feira, 21 de junho de 2006

A TAÇA E O CAPITÃO [4]

DUNGA
1990
O futebol brasileiro ainda não se refizera das decepções de 1982 e 1986, principalmente a primeira das duas (na verdade, jamais se recuperaria de todo, mesmo considerando as vitórias de 1994 e 2002). Prevalecia entre os nossos técnicos — Telê Santana à parte — a idéia de que jogar bem, bonito, criativamente, segundo o figurino do melhor futebol brasileiro, não ganha Copa do Mundo. Foi o que resultou naquilo que se chamou de Era Dunga.

A era do futebol competitivo, compactado, de marcação rigorosa mais do que de criação, de não deixar jogar em vez de simplesmente jogar, de sangue, suor e briga pela vitória em cada palmo de campo. O rótulo foi injusto com o jogador que lhe emprestou o nome. De todos os convocados por Lazaroni, era quem tinha mais espírito de liderança (embora o capitão fosse Ricardo Gomes) e quem, além de tudo, sabia jogar com aplicação, inteligência e disciplina tática. Dunga não merecia dar seu nome a um período cujo ponto de partida foi o fracasso brasileiro numa das mais pobres Copas do Mundo da história (eliminação para a Argentina nas oitavas-de-final, depois de três vitórias apertadas na primeira fase). Lazaroni merecia mais que Dunga. Foi ele um dos maiores defensores da “modernização do futebol brasileiro”, entendendo como tal a adoção de um estilo de jogo “para ganhar”, a qualquer preço, um título do qual há 20 anos o Brasil não via a cor. Resultado: não modernizou nada, não venceu e ainda por cima deixou o legado de uma era de equívocos. Sim, porque a idéia de que jogar bem não ganha Copa vingaria. Dunga, passaria quatro anos lutando contra o estigma de ter rotulado uma época tão ruim.
1994
Dunga
diz: "Quando você entra em campo, não passa absolutamente nada. Dá um vazio mental. Dá um frio horrível na barriga. Não chega a ser um medo, mas uma adrenalina que te leva para frente ou para trás. Você está vivendo o momento que mais desejou na vida. Não tem cansaço, não tem lágrima, não tem dor, não tem nada". No dia 17 de julho de 1994, com a emoção extravazando, a taça nas mãos, Dunga gritava que o Brasil era novamente o melhor o futebol do mundo.

"Aquele foi um momento e uma Seleção especiais. Jogadores, comissão técnica, dirigentes, havia um grupo que se fechou em busca de um objetivo. Sabíamos que poderíamos ser tetracampeões do mundo e conseguimos. Em 1990, precisavam de um culpado. Eu fui o escolhido. Foi isso o que aconteceu". Diz Dunga hoje.
Carlos Alberto Parreira armou um esquema tático em que a prioridade na marcação tornou o time difícil de ser derrotado. Isso, aliado, à qualidade técnica no ataque, a deixava muito perto das vitórias. Foi com essa filosofia que o Brasil conquistou o tetracampeonato com um futebol que até hoje alguns teimam em diminuir.

Comentários meus:
1. arquivei este texto antes da Copa começar, e hoje, relendo, me deu um frio na barriga ... Parreira ... jogo feio ... ó céus ... que pelo menos o final seja igual.
2. Uns dois ou três meses depois da Copa de 94, eu decidi falar com o Dunga. Pego o telefone e ligo informações Rio Grande do Sul. Porto Alegre. Digo o sobrenome "Bledorn Verri". A telefonista ri e logo me diz: A senhora quer falar com o Dunga? É. Quero. Ah! é IJUÍ ... e me deu um monte de telefones. Agradeço e ela diz: A senhora vai falar com o Dunga? (?) Eu respondo: Vou tentar ... E ela: Se a Senhora falar com ele, por favor, fala que a gente está muito feliz por ele. Com muito orgulho por tudo que ele fez. A senhora pode falar? ... Se fosse na Bahia era capaz de ninguém notar, com essa tal folclorização do baiano. Mas gaúcho? Profissional? Foi a melhor declaração de amor que eu já ouvi de alguém para alguém. Falei com um tio dele. Com o mesmo sobrenome. Gente boa, simpaticissimo. Conversou comigo como se eu fosse amiga de infância do capitão. Isso porque eu disse que era "uma fã" e que queria só dar parabéns ao Dunga... O tio me garantiu que daria o recado. Antes de desligar, passei também o recado da telefonista gaúcha inesquecível em seu carinho pelo Dunga. O tio? Gargalhava ... Tiete abestalhado do sobrinho, o ijuiense mais famoso do mundo.
3. Em 94, o Capiãto Dunga pega a Taça. Levanta lá no alto, e com as câmeras do mundo inteiro em big close nele, ele grita, numa explosão de raiva e de prazer: " ESSA PÔRRA É NOSSA ... " O Galvão Bueno não traduziu, como fez em 2002 com Cafu dizendo Regina eu te amo! Não sei porque ... No mais, não existe foto na Net do Capitão Dunga beijando a taça do Tetra.
O FUTEBOL DO BEM: Nesta copa, acontece pela primeira vez, uma Campanha Beneficente Oficial da FIFA. O objetivo é arrecadar recursos para a implantação de seis novas Aldeias Infantis pelo mundo, sendo uma delas em Igarassu, no Estado de Pernambuco, cuidada por Juninho Pernambucano. Dunga entra nesse time e também é, agora, Embaixador Das Aldeias Infantis SOS Brasil. As Aldeias têm como missão criar famílias para crianças necessitadas e participar do desenvolvimento de suas comunidades. Cada Aldeia é um condomínio formado por 10 a 15 casas-lares, onde moram famílias com até 9 crianças com idades diferentes, que convivem sob os cuidados de uma mãe social, profissional regulamentada por lei que, além de administrar o lar, cuida, educa e cria uma relação de afeto com cada criança a ela confiada. Dunga também administra uma fundação.

2 Comments:

Blogger Fábio Bito Caraciolo said...

Detalhes outros:

-> Dunga foi capitão na Copa de 98 também... chegou à final e acredito que tenha perdido o estigma de jogar mal.

-> Em 94, no jogo Brasil x Camarões, no primeiro gol de Romário, o lançamento de trivela de Dunga foi mais uma prova de que ele não era nem um pouco limitado. Se Gaúcho (o Ronaldo) dá um lançamento desse todos ficam maravilhosos.

22 junho, 2006  
Blogger Marco Valladares said...

Justiça seja feita! O cara beijou a taça sim: http://copadomundo.uol.com.br/2010/historia-das-copas/1994-estados-unidos/fotos/#fotoNav=30

04 junho, 2010  

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