DUNGA. A nossa Geni.

Poucas vezes vi alguém ser tão apedrejado como Dunga tem sido. Tão violentamente. Por tanto tempo. Por tantos jornalistas. Por tantos veículos de comunicação. Com tanta falta de educação. Com ausência total de ética. Com nenhum profissionalismo. Com tanto fervor.
Ele implacável. Raçudo. Líder. Então por quê?
Carminha e a sua paixão inexplicável [isso é pleonasmo – toda paixão da Carminha é inexplicável para os seres normais] por ele, me levaram a pensar e refletir sobre o caso.
E depois da coletiva de hoje de manhã...
Juro que fico pasma com a postura da imprensa! Se bem que está não é a primeira vez, afinal, nós, imprensa, sabemos por que somos chamados de quarto poder. Sabemos quem somos e o que podemos quando nos unimos a favor ou contra alguém.
Pode ser só para construir uma logística mais fácil para uma coletiva, mas pode ser pra outras coisitas não tão inocentes.
Vá lá que Dunga ajuda. E como ajuda... Começa com Dunga mesmo. O apelido faz brotar no inconsciente coletivo a figura de um dos sete anões. O menor de todos. Mudo. Com orelhas enormes. Pronto: feita a primeira caricatura.
Dunga – como jogador – foi o tal “volante de raça”. Seleção de 90 de Lazaroni pronta pra ganhar fosse como fosse com jogadores mais “aguerridos” e Dunga, exemplo disso, dá nome a derrotada seleção. A copa da Era Dunga.
O estilo do gaucho também colabora. Estilo do vestuário e do gestual. Outro prato cheio para fotógrafos e chargistas. Uma inocente camisa branca com umas coisinhas pretas ficou parecendo abadá de cordeiro da Timbalada.
Ele grita, fala merda, dá porra [baianando] chama de vaca a torcedora... e por aí vai.
Mas nada disso justifica a intensidade, quantidade e baixíssima qualidade das críticas negativas feitas a ele.
Prá encontrar uma foto dele no Dr. Google [como diz Seo Ari] em que ele não esteja mordendo a língua, ou com a testa franzida, ou com o bocão aberto, olhos cravados, braços retesados, dedo em riste, dando chute, fazendo discurso, dando dedo ... demora!
Declarações dele são transcritas quase todas começando com: Dunga se irrita... Dunga não aprova... Dunga proíbe... Dunga não quer... Dunga ameaça ... Dunga não gosta ...
Hoje vi manchete:
“Dunga ironiza forma física do presidente do Corinthians”.
Mas eu vi a coletiva! E ouvi! Não foi isso! Mas que a torcida do Corinthians que só leu fica puta com o Dunga, fica! Quando eu vi, a coletiva na TV já tinha começado. A primeira pergunta que ouço:
- Dunga, de onde você tira essa tua convicção de que muita gente torce contra a Seleção brasileira principalmente os jornalistas?
Como? Bom, eu nunca cobri uma copa do mundo, mas não faria uma pergunta dessas.
Dunga responde:
- Eu não tenho convicção nada – só leio, ouço, algumas pessoas falam. Eu acredito que o torcedor torça pelo Brasil quer que o Brasil vença né?
O resultado disso virou uma manchete assim:
Para Dunga imprensa “torce contra” seleção. É birra ou não? Outra que ouvi. Pergunta sobre o Kaká que terminava com mais duas perguntinhas rapidinhas:
- E você já tomou vinho? E sorvete?
Dunga responde a parte Kaká. E a guria pergunta:
- E já tomou vinho?
- Não.
E a guria:
- E sorvete?
- Não. E nem vamos falar de sexo porque já deu confusão vai dar confusão...
Sabe quando o jornalista faz aquela pergunta bem imbecil com cara de poste, ingênuo que só... Ó meus amigos, não me deixem ser famosa e dar coletiva pra esse povo. Já mandava logo a creatura pegar o sorvete e enfiar na... boca!
Óbvio que tem o fato dele ter proibido entrevistas exclusivas, de ter acabado com toda e qualquer boca livre da imprensa, de tratar programa humorístico como programa humorístico e não como jornalístico e de impor disciplina alemã com tom de voz italiano pra todo e qualquer ser vivo perto dele.
Mas e a imprensa? Qual é mesmo o papel da imprensa? Escrever crônicas sobre Soweto. Como Bob Fernandes? Fazer perguntas inteligentes e tirar novas informações. Como Fernando Vanucci? Acho que as duas coisas. Mais coisas até. Mas um bom jornalista, ético, não pode esquecer o muro que separa à seleção, ou o poder, ou os formadores de opinião de direito e de fato; de quem não faz parte disso e que está ali para colher e distribuir - a imprensa. Mesmo que esse muro às vezes se pareça com um fio de navalha.
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Mas eu sei por que todos odeiam o Dunga. Facinho facinho. Quer saber?
Ele não quebrou a perna do Maradona. Devia ter quebrado as duas claro, mas não quebrou nenhumazinha. Virava herói nacional na hora! Agora tome né Dunga?